Foram 1.237 jogos, 131 gols, muitos títulos e glórias,
recordes incontáveis... Sobram números na histórica carreira de Rogério Ceni. Faltam palavras ao
são-paulino para definir o sentimento. Tão natural quanto o tricolor do
uniforme era ter o Mito no gol. Foi assim por 25 anos. Não será mais. O ídolo
pendurou as luvas para virar lenda eterna viva do futebol mundial.
O ponto final nos gramados veio em noite mágica no Morumbi
lotado. Com rock, reverência da torcida e uma constelação de ídolos, Rogério
Ceni e o São Paulo reuniram os campeões mundiais de 1992, 1993 e 2005 para um
jogo histórico. O resultado, mero detalhe, apontou vitória da equipe do tri por
5 a 3 sobre o combinado dos bicampeões do início da década de 90.
Um a um, os ídolos foram anunciados e ovacionados pela
torcida. Muricy Ramalho, Diego Lugano, Raí e o próprio Mito foram os mais
festejados. Telê Santana, representado pelo filho Renê Santana, também foi
muito lembrado pelos tricolores. Não faltaram gritos de "volta,
Lugano" para o zagueiro do Cerro Porteño, nome analisado pelo presidente
Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, para 2016.
Antes de a bola rolar, Raí, Ronaldão e o próprio Ceni,
capitães dos três títulos mundiais, receberam as respectivas taças de 92, 93 e
2005. Elas foram entregues pelo ex-presidente José Mesquita Pimenta, por
Rochelle Siqueira Portugal Gouvêa, viúva do ex-presidente Marcelo Portugal
Gouvêa, e Angelina Juvêncio, viúva de Juvenal Juvêncio, que morreu na
quarta-feira.
Uma parte da torcida chegou a vaiar Danilo, meia do
Corinthians, convidado para o time de 2005, mas que recusou por atuar no rival.
As bandeiras de mastro e os sinalizadores, proibidos em
jogos comuns no estado de São Paulo, terminaram por compor o cenário de festa
no Morumbi lotado.
Zetti, Cafu, Raí, Muller e companhia tiveram dificuldade
para segurar o ímpeto do time tri mundial, obviamente mais jovem e condicionado
fisicamente. Amoroso e Aloísio rapidamente abriram 2 a 0. Só então o jogo foi
interrompido para se respeitar um minuto de silêncio pela morte do
ex-presidente Juvenal Juvêncio.
Paralelamente ao jogo, a torcida ovacionava Lugano a cada
toque na bola. O uruguaio e Muricy Ramalho foram os nomes mais gritados.
Cafu, com disposição de sobra, descontou para o time 92/93.
Então, Ceni protagonizou um dos pontos altos da noite: foi substituído por
Bosco no gol, e retornou com a camisa 01 na linha, expectativa de muitos
são-paulinos durante a carreira do Mito. Nos treinos no CT da Barra Funda, ele
atuou dessa maneira diversas vezes. Antes de reiniciar o jogo, o ídolo cedeu a
faixa de capitão a Lugano, para delírio dos são-paulinos.
Quando a bola voltou a rolar, Josué e Thiago Ribeiro
ampliaram para o time de 2005. Zetti, incentivado pelos são-paulinos, descontou
de pênalti para os bicampeões. Justamente quando Zetti agradecia os gritos da
torcida em gesto de reverencia, de costas para a partida, Ceni reiniciou o jogo
com finalização do meio de campo. A bola pingou e por muito pouco não entrou.
Assim como Pelé, o ídolo ficou no quase em lance parecido.
Ceni recebeu homenagens no intervalo: uma placa do diretor
de marketing da CBF, Gilberto Ratto, vaiado por parte dos são-paulinos, e
outras homenagens, também da FPF. Um dos momentos de emoção para o goleiro foi
quando a banda Ira o chamou ao palco para cantar. Ele ajudou a tocar a música
“Envelheço na cidade” e depois ouviu do vocalista Nasi:
– Você vai ser técnico desse time, voltará para cá, e vamos
ser campeões de novo, Rogério.
Depois de a bola voltar a rolar, Cafu, de pé esquerdo, fez
mais um para os bicampeões mundiais. O esperado gol de Ceni veio de pênalti,
como outros 69 da carreira, e encerrou o placar em 5 a 3 para os campeões de
2005.
O apito final foi precedido de uma contagem regressiva de 10
segundos e a história do Mito foi encerrada nos gramados para sempre. “Todos
têm goleiro, só nós temos Rogério: goleiro matador!”, foi o grito que ecoou no
Morumbi, antes de o hino do clube ser cantado com todos os campeões mundiais em
um círculo no gramado.

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